Apesar do local ser uma área de preservação ambiental, a prática contraria as boas técnicas de manejo arbóreo (Foto/Reprodução)
Uma árvore com a base completamente cimentada no chão, na Mata do Carrinho, chamou a atenção esta semana. A imagem foi divulgada pelo Observatório Urbano de Uberaba, grupo de pesquisa que discute temas ligados à Arquitetura, Urbanismo e Patrimônio Cultural da cidade. Segundo especialistas, apesar do local ser uma área de preservação ambiental, a prática contraria as boas técnicas de manejo arbóreo.
Em contato com o JM, a arquiteta e urbanista Maria Paula Meneghello e o coordenador do observatório, Leonardo Silveira, alertaram para os impactos de ações inadequadas, que não seguem critérios técnicos e legais no cuidado com as áreas verdes. Segundo eles, intervenções como a registrada na Mata do Carrinho comprometem a saúde das plantas ao impedir a infiltração da água, a oxigenação do solo e o crescimento das raízes, podendo levar as espécies à morte.
“A arborização urbana é um dos elementos fundamentais para garantir qualidade de vida nas cidades. Entretanto, práticas inadequadas de manejo, como podas mal feitas, impermeabilização do solo e escolha errada das espécies, têm causado sérios prejuízos à saúde das árvores e ao equilíbrio ambiental. Em Uberaba, essa realidade é perceptível em diversas áreas urbanas”, afirmam os pesquisadores.
Meneghello e Silveira ainda destacam que a má gestão do espaço botânico afeta não só as árvores, como também o ambiente urbano, contribuindo para o aumento da temperatura, menor infiltração da chuva e queda da biodiversidade. “Além dos impactos ao meio ambiente, há aumento de custos públicos com manutenção urbana, danos à imagem da cidade e dificuldade para cumprir políticas públicas ambientais e urbanas”, ressaltam.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) afirmou estar analisando o caso relatado e que providências serão adotadas conforme necessário. A secretaria informou ainda que será realizado um mapeamento das árvores localizadas nas áreas pavimentadas das trilhas do parque, com o objetivo de identificar outras situações semelhantes e possíveis impactos no crescimento das espécies.
"Caso sejam constatadas outras intervenções inadequadas, serão tomadas as providências necessárias para a readequação, em conformidade com as normas municipais de manejo arbóreo e preservação ambiental", ressaltou a pasta, acrescentando que a situação em questão não se trata de cimentado, mas sim de piso intertravado, o que proporciona infiltração da água da chuva. Ainda assim, tal intervenção ainda apresenta riscos quanto à saúde da árvore.
Aspectos técnico e legal
De acordo com a ABNT NBR 16246-1:2013, norma que orienta o plantio e manejo da arborização urbana, é fundamental que se mantenha um raio mínimo de 1 m² ao redor do tronco sem cobertura impermeável, como cimento ou asfalto. Esse espaço garante a oxigenação do solo e a saúde das raízes.
Para os arquitetos do observatório, “o plantio de árvores deve considerar o espaço disponível para crescimento das raízes e da copa, tolerância a podas, necessidades hídricas, tipo de solo, e compatibilidade com o mobiliário urbano”, explica Meneghello e Silveira. Além disso, as podas devem ser feitas com técnica e apenas quando necessário, pois cortes mal feitos podem comprometer a saúde da árvore.
Do ponto de vista legal, o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) e o artigo 225 da Constituição Federal asseguram a proteção da vegetação, inclusive em áreas urbanas. Em âmbito municipal, Uberaba também possui diretrizes específicas, e o corte ou poda drástica sem autorização pode configurar infração ambiental, sujeita a sanções administrativas, cíveis e criminais.
Na busca de reverter esse cenário, os especialistas defendem a valorização do plano de arborização já existente e o uso do georreferenciamento das árvores mapeadas. Ações urgentes incluem capacitação de equipes técnicas, fiscalização com participação popular e educação ambiental contínua.