Hoje é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo
“Respeitar mais o meu ritmo e o meu jeito de ser”, esse foi o primeiro passo que a operadora de loja Karoline Botta teve ao se entender como uma pessoa autista. O diagnóstico chegou aos 26 anos, depois de quase um ano de terapia.
Karoline Botta
A incidência em adultos pode parecer improvável, mas é possível que as pessoas cresçam e não saibam que convivem há anos com o TEA (Transtorno do Espectro Autista). Isso se deve ao fato de esses indivíduos não manifestarem características moderadas ou severas do distúrbio.
O psicólogo Cleyton Magela explica sobre o preconceito que existe com pessoas neurodivergentes, que são aquelas que apresentam alguma condição neurológica atípica.
“O estudo sobre autismo ainda precisa ser muito mais explorado pela ciência. A conscientização do Autismo e os avanços em processos diagnósticos tornam possível identificar pessoas que estão no espectro, mesmo que elas já sejam adultas”, complementa.
O psicólogo ainda conta que o diagnóstico tardio de autismo é uma realidade cada vez maior nos dias de hoje para muitas pessoas.
“Algumas coisas até me incomodavam como dizer que eu “não tenho cara de autista”, mas hoje eu entendo que é uma falta de informação que as pessoas têm e tento explicar pra elas que o autismo não tem cara. Mas acho que uma das coisas que mais me irritam é o capacitismo e a falta de inclusão. As pessoas precisam buscar mais informações sobre esses assuntos e se conscientizarem mais”, conta Karoline.
Segundo o Autismo e Realidade, associação de pais e profissionais de saúde em prol da causa, as classificações sã Pessoas neurotípicas (ou típicas) são aquelas que não possuem problemas de desenvolvimento neurológico – podemos chamá-las também de não autistas. Já as pessoas neurotípicas (ou atípicas) lidam com diferentes alterações relacionadas ao desenvolvimento neurológico. As pessoas com TEA fazem parte do grupo de pessoas atípicas.
“Eu cogitei essa possibilidade após pesquisar a respeito de algumas características minhas e encontrar depoimentos de autistas com os quais eu me identifiquei. Na infância minha mãe chegou a buscar uma profissional devido a uma característica que apresentei, porém pelo que eu entendi essa profissional não chegou a investigar”, conta Karoline.
Somente na fase adulta, após compartilhar com a psicóloga sobre essa pesquisa, começou a investigação e o encaminhamento para um neuropsicólogo que chegou ao diagnóstico. “Ter o diagnóstico (mesmo que tardio) é muito importante para que a gente se conheça e entenda melhor nosso próprio funcionamento”, afirma a jovem.
“Nenhuma pessoa é ‘receita de bolo’ por mais que tenham diagnósticos iguais. Por isso precisamos tratar os pacientes com suas individualidades e fazer o levantamento de suas necessidades e potencialidades”, explica Cleyton Magela.
O profissional ainda explica que para diagnosticar o autismo na vida adulta, é necessário observar alguns aspectos, como dificuldade de interação social, se são mais introspectivos e preferem ficar em casa, se são antissociais e sentem dificuldades nas relações, na comunicação, apresentam hiperfoco em algumas áreas de interesse ou manias e dificuldades nas mudanças de rotina.
Cleyton esclarece também que a condução após o diagnóstico é diferente na fase adulta. “A diferença entre o TEA adulto e criança está na abordagem, enquanto na criança se estimula interações sociais e interesses para seu desenvolvimento infantil, no adulto se estimula a adaptação de suas atividades de vida diária, como necessidades básicas até a independência”, elucida.
Karoline conta que ainda está aprendendo a lidar, mas que se orgulha de quem é e reforça “não precisamos de cura”.
“Nós, autistas, temos qualidades, habilidades, sonhos, capacidades e esperamos que a sociedade busque se conscientizar melhor a respeito do assunto, que abandone o capacitismo e se torne mais inclusiva”, reivindica.
Hoje é celebrado o “Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo”, data que tem por objetivo difundir informações para a população sobre o autismo e assim reduzir a discriminação e o preconceito que cercam as pessoas afetadas pelo transtorno. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007.